Indicadores de Saúde
Indicadores de Saúde

 

CONCEITO

 

Indicadores são “parâmetros utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos planejadores de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em diversos períodos de tempo”.  (Rouquayrol, 4.ª ed.)

            Resumidamente, os indicadores permitem o conhecimento de uma determinada situação por meio da caracterização diagnóstica da realidade. Possibilita uma comparação individual ou coletiva, subsidiando, dessa forma, a tomada de decisões em saúde. No plano coletivo, de forma mais abrangente, os indicadores auxiliam na metodologia do planejamento, gerenciamento e avaliação dos serviços de saúde. No plano individual, no contato com o paciente, se consagram no auxílio do diagnóstico, por oferecer informações sobre determinadas doenças na população e na escolha da melhor conduta terapêutica.

            O conceito de saúde, no entanto, é muito amplo e complexo para se reproduzir fielmente, por exemplo, um diagnóstico populacional, sendo necessário o uso de vários indicadores para permitir a análise do contexto.

 

 

CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS PARA A ELEIÇÃO DE INDICADORES

 

Validade

É a adequação do indicador para representar ou medir corretamente o fenômeno considerado. Um bom exemplo de validade pode ser compreendido quando se quer estudar a incidência de faringite estreptocócica num determinado serviço de pediatria. Se utilizarmos apenas o exame da orofaringe como recurso diagnóstico para tal, provavelmente, estaremos superestimando a incidência de faringite devido à bactéria S. pyogenes. Enquanto se usarmos a cultura das secreções para isolar o agente causal, estaremos atestando maior validade deste teste em relação ao anterior.

 

Confiabilidade (reprodutibilidade ou fidedignidade)

Significa obter resultados semelhantes quando a medida é repetida. É ser reprodutível. Um indicador de “baixa confiabilidade” não tem utilidade, enquanto que um de “alta confiabilidade” só é bom se for de “alta validade”.

 

Representatividade (cobertura)

Representa a área de cobertura do indicador, é o seu alcance na população estudada. Um indicador sanitário, por exemplo, será tanto melhor quanto maior a cobertura populacional alcançar ou abranger uma amostra representativa da população.

 

Obediência a preceitos éticos

Significa não acarretar prejuízo aos investigados. Um claro exemplo é o de não utilizar indicadores para avaliar uma população se não há possibilidade de intervenção na mesma ou quando o “sigilo” dos dados individuais não é preservado.

Oportunidade, simplicidade, facilidade de obtenção e custo operacional

Embora não seja imperativa a existência de todas estas características em cada um dos indicadores, são fundamentais em condições habituais de funcionamento dos serviços. Não devem causar perturbações ou inconvenientes no andamento das rotinas diárias para a obtenção do indicador.

 

CLASSIFICAÇÃO

 

Þ       Segundo a Expressão dos seus Resultados

São classificados dessa forma quando sua expressão representa uma contagem de unidades ou medição de alguma característica.

 

Freqüência Absoluta

É a forma mais fácil de expressar um resultado, pois não se apóiam em pontos de referência que permitiriam melhor interpretação dos resultados, como no caso da relativização pelo tamanho da população. Causa, portanto, limitações na sua interpretação. É geralmente aplicado à contagem de séries temporais de uma mesma localidade. Por exemplo: número de óbitos ocorridos por trauma em um ano; número de casos de tuberculose no ano/local; número de leitos obstétricos no ano; número de vacinas utilizadas na campanha.

 

Freqüência Relativa

É a expressão em números de um determinado evento (mortalidade, morbidade) com um referencial fixo ou determinado. Isto significa que deve haver um denominador fidedigno para que o cálculo expresse o que estamos querendo avaliar. Não podemos calcular a mortalidade materna, por exemplo, usando como denominador uma população inteira, neste caso usamos apenas as pessoas que estão em risco de falecer, as mães (número de nascidos vivos como número aproximado de mulheres grávidas). Outra característica é a de facilitar a interpretação dos resultados por relacionar dois valores absolutos que guardam entre si alguma forma de coerência: por exemplo, mortalidade materna é a razão entre o número de óbitos de mulheres ligados aos fatores gestacionais, do parto e o puerpério e o número de nascidos vivos na mesma época.

 

Exemplos:

N.º de casos de tuberculose/população de Curitiba

N.º de leitos obstétricos/número total de leitos

N.º de vacinas/Número de crianças < 1 ano

 

Medidas de Freqüência Relativa

§  Coeficiente ou Taxa

(Número de casos / população em risco x constante)

Este tipo de medida de freqüência relativa possui como denominador apenas dados daqueles que podem vir a se tornar casos, ou seja, a população em risco. Neste caso, o coeficiente ou taxa passa a ser denominado também de “expressão de risco”.

 

Exemplos:

TAXA DE MORTALIDADE GERAL

TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL

TAXA DE MORTALIDADE MATERNA

TAXA DE INCIDÊNCIA

 

§  Proporção

(Número de Casos / Número Total)

Neste caso não há representação de risco pois essa medida apenas dimensiona o quanto a parte (numerador) corresponde ao todo (denominador). Os casos não estão diretamente relacionados à população da qual procedem. Embora seja freqüentemente utilizada, a sua interpretação é limitada quando se deseja realizar comparações temporais e entre diferentes localidades.

Exemplos: Proporção de Óbitos Neonatal Precoce, Tardio e Pós-Neonatal, por Regiões.

 

  • Razão

(Número de Casos de um Evento / Número de Casos de Outro Evento)

Nesta medida de freqüência, os valores utilizados representam eventos distintos que estão sendo comparados.

Exemplo: Razão de Masculinidade para portadores de HIV

1985 = 40/1

1988 = 5/1

1991 = 4/1

1994 = 3/1

 

Þ       Segundo a Relação com o Bem-Estar

Este tipo de classificação qualifica os indicadores em positivos ou negativos, tentando traduzir alguns aspectos da qualidade de vida populacional. O uso dessas expressões geralmente é difícil de ser obtido, pois nas avaliações da condição de saúde , são as características negativas, como a morbidade e a mortalidade, que são mais perceptíveis na comunidade.

 

Þ       Segundo a Natureza das Informações

            Há um número grande de indicadores em uso atualmente devido à existência de inúmeras dimensões a serem aferidas numa população. Entre eles estão os que podem ser classificados quanto às condições de saúde das pessoas, às condições ambientais e às dos serviços prestados a população, bem como aspectos demográficos, sociais e econômicos. Abaixo, seguem alguns exemplos de indicadores utilizados na prática epidemiológica, segundo a Matriz de Indicadores Básicos (IDB-2000, DataSUS – www.datasus.gov.br),  dividido em grupos conforme a natureza das informações:

 

  • Indicadores Demográficos

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Taxa de crescimento da população

Percentual de incremento médio anual da população residente em determinado espaço geográfico, no período considerado.

As estimativas de crescimento da população são realizadas pelo método geométrico.

Taxa de fecundidade total

Número médio de filhos nascidos vivos, tidos por uma mulher ao final do seu período reprodutivo, na população residente em determinado espaço geográfico.

A taxa de fecundidade total é obtida pelo somatório das taxas específicas* de fecundidade para as mulheres residentes de 15-49 anos.

*taxa de fecundidade específica: no de nascidos vivos de mulheres de determinada faixa etária sobre população feminina total na faixa etária determinada.

Taxa bruta de natalidade

Número de nascidos vivos por mil habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número total de nascidos vivos residentes, sobre a população total residente (x 1000)

Mortalidade proporcional por idade

Distribuição percentual dos óbitos, por faixa etária, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos de residentes, por faixa etária, sobre o número total de óbitos de residentes, excluídos os de idade ignorada (x100).

Taxa bruta de mortalidade

Número de óbitos, por mil habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano.

Número total de óbitos de residentes, sobre a população total residente (x mil).

Razão de sexos

Número total de pessoas residentes em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Utilização direta da base de dados, expressando-se os resultados em números absolutos e percentuais.

 

  • Indicadores Socioeconômicos

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Taxa de analfabetismo

Percentual de pessoas de 15 anos e mais de idade que não sabem ler e escrever pelo menos um bilhete simples, no idioma que conhecem, na população total residente da mesma faixa etária, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de pessoas residentes de 15 anos e mais de idade que não sabem ler e escrever um bilhete simples, no idioma que conhecem, sobre a população total residente, dessa faixa etária (x100).

Níveis de escolaridade

Distribuição percentual da população residente de 15 anos e mais de idade, por grupos de anos de estudo, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de pessoas residentes de 15 anos e mais de idade, por grupos de anos de estudo, sobre a população total residente, dessa faixa etária (x100).

Taxa de desemprego

Percentual da população residente economicamente ativa que se encontra sem trabalho, na semana de referência, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número residentes de 10 anos e mais de idade que se encontram desocupados e procurando trabalho, na semana de referência, sobre o número de residentes economicamente ativos (PEA), dessa faixa etária (x100).

 

  • Indicadores de Mortalidade

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Taxa de mortalidade infantil

Número de óbitos de crianças menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Direto: número de óbitos de residentes com menos de um ano de idade, sobre o número total de nascidos vivos de mães residentes (x 1mil).

Taxa de mortalidade materna

Número de óbitos femininos por causas maternas, por 100 mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos de mulheres residentes, por causas e condições consideradas de óbito materno, sobre o número de nascidos vivos de mães residentes (x100mil).

Taxa de mortalidade neonatal precoce

Número de óbitos de crianças de 0 a 6 dias de vida completos, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Direto: número de óbitos de residentes de 0 a 6 dias de vida completos, sobre o número total de nascidos vivos de mães residentes (x1mil).

Taxa de mortalidade neonatal tardia

Número de óbitos de crianças de 7 a 27 dias de vida completos, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Direto: número de óbitos de residentes de 7 a 27 dias de vida completos, sobre o número total de nascidos vivos de mães residentes (x1mil).

Taxa de mortalidade pós-neonatal

Número de óbitos de crianças de 28 a 364 dias de vida completos, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Direto: número de óbitos de residentes de 28 a 364 dias de vida completos, sobre o número total de nascidos vivos de mães residentes (x1mil).

Taxa de mortalidade perinatal

Número de óbitos fetais (a partir de 22 semanas completas de gestação, ou 154 dias) acrescido dos óbitos neonatais precoces (0 a 6 dias) por mil nascimentos totais (óbitos fetais mais nascidos vivos), em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Todos os valores referem-se à população residente.

Soma do número de óbitos fetais (22 semanas de gestação e mais) e de óbitos de crianças de 0-6 dias de vida completos, de mães residentes, sobre o número de nascimentos totais de mães residentes (nascidos vivos mais óbitos fetais de 22 semanas e mais de gestação) (x1mil).

Mortalidade proporcional por grupos de causas

Distribuição percentual de óbitos por grupos de causas definidas, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Grupos  de causas: capítulos da CID-10

Número de óbitos de residentes, por grupos de causas definidas, sobre o número total de óbitos de residentes, excluídas causas mal definidas. (x100)

Taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório*

* exemplo de taxa de mortalidade por grupo de causa específico.

Número de óbitos por doenças do aparelho circulatório (códigos I-00 a I-99 da CID-10), por 100mil habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de óbitos residentes por doenças do aparelho circulatório, sobre a população total residente ajustada ao meio do ano (x100mil).

 

  • Indicadores de Morbidade e Fatores de Risco

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Incidência de doenças transmissíveis

Número absoluto de casos novos confirmados da doença, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Somatório anual do número de casos novos da doença confirmados em residentes.

Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas

Distribuição percentual das internações hospitalares pagas pelo SUS, por grupos de causas selecionadas (capítulos da CID) na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de internações de residentes, por grupo de causas, pagas pelo SUS, sobre o número total de internações de residentes, pagas pelo SUS (x100).

Proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer

Percentual de nascidos vivos com peso ao nascer inferior a 2500 gramas, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de nascidos vivos de mães residentes, com peso ao nascer inferior a 2500g, sobre o número total de nascidos vivos de mães residentes (x100).

 

 

 

  • Indicadores de Recursos

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Números de profissionais de saúde por habitante

Número de profissionais de saúde por mil habitantes, segundo categorias, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de profissionais da categoria de saúde específica, sobre a população total residente, ajustada para o meio do ano (x mil).

Número de leitos hospitalares (SUS) por habitante

Número de leitos hospitalares conveniados ou contratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por mil habitantes residentes, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número médio anual de leitos hospitalares conveniados ou contratados pelo SUS, segundo vínculo (público, privado ou universitário), sobre a população total residente, ajustada para o meio do ano (x1mil).

 

  • Indicadores de Cobertura

DENOMINAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

MÉTODO DE CÁLCULO

Número de consultas médicas (SUS) por habitante

Número médio de consultas médicas apresentadas ao SUS por habitante, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número total de consultas médicas apresentadas ao SUS, sobre a população total residente.

Número de internações hospitalares (SUS) por habitante

Número médio de internações hospitalares pagas pelo SUS, por 100 habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número total de internações hospitalares de residentes, pagas pelo SUS, sobre a população total residentes (x100).

Proporção de Partos cesáreos (SUS)

Percentual de partos cesáreos pagos pelo SUS, segundo vínculo, em relação ao total de partos hospitalares pagos pelo SUS, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de partos cesáreos de residentes, pegos pelo SUS, em determinada categoria de vínculo, sobre o total de partos hospitalares de residentes, do mesmo vínculo, pagos pelo SUS (x100).

Cobertura vacinal no primeiro ano de vida

Percentual de crianças menores de um ano de idade imunizadas com vacinas específicas, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

Número de crianças menores de um ano de idade com esquema básico completo para determinado tipo de vacina, sobre a população da faixa etária de menores de um ano (x100).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROUQUAYROL, M. Z.; Epidemiologia e Saúde. 6a..ed., Rio de Janeiro: MEDSI,  2003.

PEREIRA, M. G.; Epidemiologia Teoria e Prática. 2.ed., Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1999, 596p.

IDB-2002. www.datasus.gov.br